Segundo levantamento da National Association of Realtors, brasileiros adquiriram US$ 1,6 bilhão em imóveis nos EUA entre abril de 2021 e março de 2022
Em 2021, a quantidade de brasileiros que deixaram o País sem a intenção de voltar foi a maior em 11 anos: dado o prolongamento da pandemia, 17% dos emigrantes não retornaram. O principal destino foi os Estados Unidos. Em 2021 foram 56,9 mil brasileiros detidos por documentação irregular.
Morar e trabalhar nos EUA também era o sonho do paranaense Douglas Strabelli, que desembarcou em Nova York há mais de 20 anos. Hoje, sua empresa, Sagewood Corporation, conta com um portfólio que engloba hotéis, casas de luxo, ações de retrofit e restaurantes. Atuando como construtora e incorporadora, a companhia tem empreendimentos espalhados por todo o país.
Particularidades norte-americanas
O IQ Concept, por exemplo, é um projeto em desenvolvimento em Aventura, cidade no oeste da Flórida que vai englobar um prédio residencial e um condomínio multiuso com proposta multifamily. Propriedades Multifamily são complexos residenciais com diversos apartamentos registrados sobre uma mesma escritura, de forma a possuir apenas um proprietário, seja ele pessoa física ou jurídica.
Esses apartamentos são disponibilizados para aluguel e se tornam uma fonte de renda para o proprietário. Na prática, é uma espécie de investimento que, apesar de não ser tão difundida no Brasil, está consolidada no país norte-americano. De acordo com o mapeamento da CBRE em 2021, a modalidade movimentou US$ 69,3 bilhões em volume global de vendas e US$ 45,5 bilhões em volume global de empréstimos.
Não à toa, a Sagewood Corporation tem a expectativa de que o IQ Concept alcance um Valor Geral de Vendas (VGV) de US$ 250 milhões. E o Brasil deve ter papel fundamental nessa empreitada. “Cerca de 80% dos nossos investidores são brasileiros. Eles enxergam uma oportunidade de diversificação vantajosa nesse tipo de negócio”, contextualiza Strabelli, CEO da empresa.
Consolidando a carteira com o Brasil
O empreendedor confessa que se mudou para os Estados Unidos sem a ambição de enveredar para o mercado imobiliário. Antes, ele vivia na Espanha, onde chegou sem falar o idioma e trabalhava como ajudante de obras. Mais tarde criou sua própria construtora e seis anos depois a vendeu. Resolveu, então, migrar para Nova York. “Queria montar um restaurante, mas depois de três meses vi que meu negócio era outro”, brinca.
“Trabalhei de graça numa empresa de construção por quatro meses. Foi quando me especializei no mercado de luxo americano.” Ele conta que, no início, a maioria dos investidores eram clientes antigos que tinham se relacionado na Espanha, mas com o crescente interesse do público da sua terra-natal, acabou mudando de foco. “O brasileiro começou a entender o mercado e a perceber que não é difícil investir nos Estados Unidos”, afirma.
Um dos maiores símbolos dessa participação brasileira foi a construção de um hotel Fasano na Quinta Avenida, em Nova York. Para abrir as portas aos investidores, ele costuma fazer roadshows por aqui. “Só esse ano fui 7 vezes ao Brasil”, comenta. Strabelli argumenta que a maior dificuldade dos investidores e pessoas físicas era encontrar empresas que pudessem ajudá-lo e intermediar esse processo.
Presença brasileira no mercado imobiliário dos Estados Unidos
Os brasileiros compraram US$ 1,6 bilhão em imóveis nos EUA entre abril de 2021 e março de 2022, de acordo com levantamento realizado pela National Association of Realtors. O valor representa 3% dos US$ 59 bilhões em propriedades vendidas para estrangeiros no país e coloca o Brasil na quinta posição entre os países com mais clientes no mercado de imóveis local, atrás apenas de China (US$ 6,1), Canadá (US$ 5,5), Índia (US$ 3,6) e México (US$ 2,9).
Também é de olho nessa fatia do mercado que a corretora de imóveis Yara Gouveia, da Leven Real Estate, procura fazer negócios. Moradora de Nova York, ela atua no setor há mais de 20 anos e conta que a participação brasileira no mercado imobiliário dos Estados Unidos sempre existiu, mas é marcada por altos e baixos. “A gente percebe algumas oscilações que acontecem pela alta de juros ou pelo câmbio”, pontua.
“Quando a diferença do dólar para o real era pequena, os brasileiros compravam bastante. O dólar subiu e o mercado sentiu. Nessa época, em Miami, onde a classe média compra mais, [o preço] estava ficando caro e os investidores começaram a vender”, exemplifica. “Durante a pandemia, houve uma nova mudança. E, agora, nesse período de pós-quarentena, o mercado vem se recuperando novamente”, pontua.
Especializada na venda de imóveis em Nova York e Miami, ela afirma que existem diferenças entre os públicos dessas duas localidades. O brasileiro que compra em NY não tem sensibilidade tão grande ao dólar quanto compradores de Miami, comenta.
Os dois últimos apartamentos que Yara vendeu em Nova York para brasileiros custaram oito e seis milhões de dólares, respectivamente. E ela diz estar observando aumento na busca nos últimos meses. “Acredito que pelo momento político e pelas incertezas de futuro, mais pessoas estão planejando suas vidas aqui. Não apenas para investimentos ou segunda residência, mas para mudança também.”
Oscilações do mercado
Entre abril de 2021 e março de 2022, compradores estrangeiros adquiriram 98.600 propriedades nos Estados Unidos. O valor representa queda de 7,9% em relação ao ano anterior e o menor número de casas compradas desde 2009. Por outro lado, no geral, as vendas de residências existentes nos EUA totalizaram 6,12 milhões em 2021 — o nível anual mais alto desde 2006.
Os preços parecem não ser os mais acessíveis, apesar disso. O comprador típico de uma casa em outubro pagou 77% a mais em seu empréstimo, por mês, do que pagaria no ano passado. Isso ajuda a explicar como a assinatura de contratos residenciais caíram pelo quarto mês consecutivo em setembro, de acordo com a National Association of Realtors.
Para se ter uma ideia, em setembro, o termo “U.S. Bolha imobiliária” atingiu a maior alta em 15 anos, de acordo com dados de tendências do Google. Frederico Gouveia, corretor de imóveis que atua em Nova York, acredita que esse cenário pode se traduzir em oportunidades.
“A diminuição no volume de negócios faz com que os proprietários deem uma margem maior para negociação”, argumenta.
“Principalmente empreendimentos novos, que têm bastante estoque, estão com descontos mais altos. É uma chance boa para quem pensa em investir”, adiciona.
“Em 2021, houve grande recuperação na cidade depois da pandemia. Estamos observando uma melhora gradual, tanto no mercado de locação quanto no de venda”, complementa.
O que corrobora a afirmação de Frederico é que no primeiro semestre deste ano, as transações de propriedades comerciais nos Estados Unidos atingiram um recorde de US$ 375,8 bilhões. Fato é que entre prognósticos, altas de juros e perspectivas para o setor imobiliário dos EUA, o mercado imobiliário norte-americano, seja para moradia ou investimento, ainda é um sonho para muitos brasileiros.
Texto: Breno Damascena
Fonte: Estadão Imóveis
Sagewood Corporation
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